Antes de pegar um dos papeis mais cobiçados da década, a heroína de O Despertar da Força, Daisy Ridley se acostumou com o desapontamento. Em meses até seu primeiro teste de elenco para o Episódio VII, a confiança da atriz de 23 anos estava despedaçada. Uma semana num pequeno workshop, foi dito a ela que nem precisava se importar em voltar. E após conseguir um papel principal na série “Youngers” do canal E4, o papel foi cortado pra apenas um dia de gravação.
“Eu estava meio acostumada das coisas não acontecerem, então durante todo o processo [de testes do Episódio VII] eu pensava: ‘Não vou conseguir. Eles vão achar alguém muito melhor que eu‘”, ela lembra. Quando dois dos seus primeiros testes pra Star Wars não foram tão satisfatórios – pelo menos pela perspectiva dela. Incrivelmente, Ridley continuou recebendo ligações e algo aconteceu no teste final, fazendo com que ela passasse na frente de todos os candidatos. Agora, ela diz com um pouco de satisfação: “Eu tive oportunidades que não tive antes“.
Embora a atriz já esteja com a agenda cheia com o Episódio VIII que começa a ser gravado em Londres em janeiro e depois com o Episódio IX, ela logo vai estar familiarizada com a base de fãs espalhados pelo mundo todo e terá a oportunidade de escolher diretores e papeis no futuro. Mas mesmo conseguindo o papel de Rey, Ridley continuou tendo rejeições. Ela conta que recebeu um não por um papel em um filme sem nome no ano passado após um mal funcionamento de um guarda-roupas na frente do agente de testes. “Eu tenho certeza que a estrela do filme é muito melhor que eu“, ela lamenta. Talvez tenha sido esse clima que a ajudou a ganhar bons olhos pelo diretor de O Despertar da Força e a Lucasfilm. E seja a trajetória da carreira dela como a de Harrison Ford ou como a de Hayden Christensen, Ridley tem um plano B em ação: Ela já iniciou um curso de Psicologia. E claro, ela está em Londres, onde mora com sua família e seu cachorro surdo-cego chamado Muffin. “Eu adoro vir pra Los Angeles e então adoro voltar pra a velha chuvosa Londres, porque é minha casa.” O Hollywood Reporter falou com Ridley sobre a sua ascensão do anonimato a próxima geração de atores de Hollywood.
Hollywood Reporter: Como você conseguiu o papel da Rey?
Daisy Ridley: Eu ouvi sobre o papel bem antes de fazer os testes, enviei um email pra meu agente, dizendo que tive um sentimento bem estranho, senti realmente que precisava fazer o teste desse papel. Então os meses se passaram e as mesmas pessoas estavam se preparando para o papel. Mas mesmo assim eu tinha esse sentimento de que eu precisava mesmo fazer esse teste. Então eu enviei um email novamente pra meu agente dizendo que queria participar. Eu fiz quatro ou cinco testes durante sete meses, e foi um tempo bem emotivo. Meus primeiros testes não pareceram bons mas no meu último eu senti que alguma coisa “clicou”. Você se desespera tanto pra conseguir um papel, mas eu senti que mesmo se eu não conseguisse, eu tinha feito um ótimo trabalho e que que tinha me deixado orgulhosa.
Hollywood Reporter: Como se sentiu com a ligação de J. J. Abrams?
Daisy Ridley: Foi estranho porque durante aquela época eu sabia que as coisas estavam bem estreitas, então eu soube que logo teria o resultado, fosse bom ou ruim. Eu lembro de ter chutado uma garrafa no chão enquanto eu estava andando no centro de Londres, pensando que era apenas um momento normal da vida.
Hollywood Reporter: Como você lidou com todo o segredo envolvendo Star Wars?
Daisy Ridley: Eu cheguei em casa e disse a minha mãe, pai e irmã, mas que não podia dizer a ninguém por até três meses, sabendo que algo tão grandioso tinha acontecido na minha vida. No dia anterior ao anuncio, eu estava conversando com minha mãe e disse: “Eu queria tanto contar a todo mundo por tanto tempo que agora eu não quero mais.” E então ela disse que o sentimento era de como se estivesse grávida, que você fica louca pra que o bebê venha logo mas quando ele chega, você fica tipo “Saia daqui, vá embora. Eu não consigo lidar com ele!“. Quando todos souberam foi algo totalmente diferente.
Hollywood Reporter: O quanto você é parecida ou diferente de Rey?
Daisy Ridley: A grande diferença é que ela não teve uma família e eu tenho uma família que sou bem próxima. Além disso, eu diria que o jeito com que lidamos as coisas é bem similar. Ela encara vários desafios durante o filme e o jeito que reage as coisas eu acho que parece um pouco como todos reagem. É por isso que eu acho que ela é tão universal e brilhante: ela tem medo mas enfrenta tudo que é preciso enfrentar. E também é valente e inteligente, e você vê todo um espectro emocional dela durante o filme. Ela não é uma super-heroina. Ela é uma garota normal que é jogada em circunstâncias extraordinárias, então é bem relacionável. É uma história emocional sobre uma garota numa jornada, mas a história tem muito mais do que isso.
Hollywood Reporter: Como foi o treinamento?
Daisy Ridley: Foram três meses de treino. Basicamente, J. J. queria que eu parecesse mais forte porque eu estava bem magrinha na época. Eu levantei pesos. Eu tive que manter uma dieta porque ele queria que eu pudesse levantar um grande pedaço de lixo e parecer forte o suficiente. Então teve uma grande ênfase em “ficar bombada”, segundo eles. O treino durava por cinco horas por dia, era uma hora de musculação e então quatro horas de treinos de acrobacias.
Hollywood Reporter: Como você lidou com a dieta?
Daisy Ridley: Eu na verdade achei bem difícil porque era só proteína. Eu não conheço ninguém que coma tanto assim, porque eu como muito, mas era tipo: “Tem muita coisa quente entrando no meu corpo“. Eu tinha esse chefe maravilhoso. Ele fazia shakes e barras. Mas desenvolver músculos é bem difícil. Parece que você está constantemente comendo e não dá pra aproveitar. Eu comi muito peixe. Spirulina se tornou meu melhor amigo.
Hollywood Reporter: Por que você acha que Star Wars resoa em tantas pessoas?
Daisy Ridley: Conta histórias individuais, mas o todo é maior que a soma de todas as partes. Não é a história de Han Solo, não é a de Luke Skywalker, não é a de Leia. Todos eles tem histórias que se conectam. Todos são influência na história do outro e J. J. continuou com isso.
Hollywood Reporter: Carrie foi um grande recurso no set?
Daisy Ridley: Carrie e eu não conversamos muito sobre a primeira trilogia. Ela é tão brilhante, uma mulher britlhante e hilária. Mas eu não queria perguntar a Mark, Carrie ou Harrison muito sobre o que aconteceu. Eu sei que John [Boyega] falou com eles muito mais do que eu imaignei, porque ele me contou coisas que eu nunca soube. A filha de Carrie estava no set e ela tem a mesma idade que eu e ela é tão legal quanto.
Hollywood Reporter: Ela interpreta uma jovem Princesa Leia?
Daisy Ridley: Não. Não teve necessidade de uma jovem Leia. Nós não precisamos de outra.
Hollywood Reporter: Quando você foi anunciada como interprete de Rey, havia e ainda há muito segredo acerca da franquia. Como você lida com isso?
Daisy Ridley: Eu e John fizemos algo outro dia e permitiram que a gente conversasse sobre coisas que antes não podíamos falar, e me diverti muito com isso. Eu não vou entrar muito em apuros, mas é que todo mundo trabalhou tão duro nisso. No momento em que você pensa em todas as pessoas que estão mantendo esse segredo, não parece tanto um fardo. Mesmo que eu fosse descrever nos melhores detalhes tudo o que acontece no filme, eu nunca poderia fazer justiça a isso porque é uma história contada em filme. Então todo esse segredo não parece ser tão difícil. Sinto que é a coisa certa. Houve rumores aqui e ali, e algumas coisas são verdades e outras são totalmente o contrário.
Hollywood Reporter: Nessa era de Social Media, todo mundo sabe tanto sobre os filmes antes de assistí-los.
Daisy Ridley: E tira toda a graça. Eu não quero dissecar algo antes de vê-lo. E as coisas mudam. Nem mesmo eu sei o que vai ter lá após a edição.
Hollywood Reporter: Todos querem saber quem são os pais da Rey. Você sabe?
Daisy Ridley: Sim.
Hollywood Reporter: Os espectadores vão saber após o primeiro filme ou necessariamente não?
Daisy Ridley: Perguntas serão respondidas, absolutamente. A pergunta principal será respondida.
Hollywood Reporter: Qual foi o momento que te fez querer atuar?
Daisy Ridley: Eu queria ter um conto de fadas pra contar, mas não tenho. Eu frequentei uma escola de artes cênicas e foi um pouco complicado e acabei tendo um incrível professor de drama, então ele provavelmente foi a primeira pessoa que me fez pensar que eu podia fazer isso como uma profissão. Mas mesmo depois que saí da escola, eu viajei. Visitei a India por alguns meses e então comecei a fazer testes. Minha irmã me perguntou: “Por quê as pessoas querem ser atores/atrizes?” E eu não sabia responder.
Eu não tenho muita certeza das minhas capacidades. Eu senti como uma novata em comparação a todas as pessoas com quem trabalhei. Semana passada fui ao dentista e eu disse que era uma atriz e todo mundo ficou: “Ohhhh“. Ainda é um pouco estranho pra mim.Hollywood Reporter: Quem foi sua inspiração na indústria?
Daisy Ridley: Carey Mulligan. Ela já atuou bastante, bastante mesmo e os papeis que ela pegou são totalmente incríveis. E a vida dela é privada.
Hollywood Reporter: Qual seu pior hábito quando está em set?
Daisy Ridley: Uma vez J. J. apostou comigo que eu não conseguia passar um dia sem cantar – e eu quase terminei aquele dia mas aí comecei a cantar de novo! Quando me sinto confortável eu gosto de cantar e cantarolar, eu nem percebo que estou fazendo. Mas às vezes alguém chega pra mim e diz: “Sabe, adoro essa música que você tá cantando, mas é um pouco desconcentrante.“
Hollywood Reporter: Quais as séries que você é viciada?
Daisy Ridley: RuPaul’s Drag Race. Eu assisti toda a terceira temporada em uma semana. No Halloween, eu e meus amigos nos vestimos de “Drag or Die” e eu estava imitando Trinity K Bonet, que é uma das minhas queens favoritas e a que mais amo. E eu assisto também “House of Cards”, que é meu programa número um.
Hollywood Reporter: Se você não fosse atriz, o que seria?
Daisy Ridley: Uma psicologca ou conselheira. Eu me inscrevi numa faculdade no ano que vem e comecei com Ciências Sociais. Eu sempre tive interesse nisso. As pessoas se beneficiam em apenas conversar sobre o que está acontecendo, e as pessoas que ajudam outras a superar coisas ruins da vida são incríveis. Tocar alguém que está passando por alguma coisa é bem gratificante. E novamente, eu fico muito emocionada, então eu não sei se eu poderia me envolver tanto nas coisas e ser capaz de separar.
Hollywood Reporter: Qual é seu objetivo final na sua carreira?
Daisy Ridley: Eu não sei. Objetivos sempre mudam. Eu não planejei estar no filme de Strar Wars mas agora estou em um. Eu estava procurando entrevistas com Kate Winslet outro dia e ela disse que se importa ainda muito. Isso é algo que eu gostaria de fazer, continuar me importando tanto e continuar trabalhando com pessoas que também se sentem assim.
Hollywood Reporter: Qual seu filme favorito de todos os tempos?
Daisy Ridley: Matilda. Meu Deus, um dos nossos camera trabalhou no filme e eu estava enchendo o saco dele o tempo todo. Senti como se a jornada dela fosse similar a de Rey, onde Matilda começa com tanta coisa que ela não sabe realmente se queria ser aquilo e descobre algo sobre si mesma que é muito especial. É aquilo de uma criança, ou alguém jovem ou até uma pessoa mais velha não se sentir feliz com o que tá acontecendo, sentir que não tem como mudar aquilo e então de repente algo acontece e as possibilidades parecem infinitas. É sobre como usar o que você tem, o que todos tem dentro de si, todas as coisas especiais sobre elas e fazer uma vida boa pra si e aqueles que estão a sua volta.
Hollywood Reporter: Que papel você gostaria de ter interpretado?
Daisy Ridley: Roxie Hart. De Chicago. Renée Zellweger estava tão incrível nesse filme. Eu estou louca pra fazer um musical. Na verdade, ouvi rumores que tem uns musicais sendo feitos e eu estou esperando alguém falar “Daisy seria muito boa nesse e tal.“
Hollywood Reporter: Qual foi seu pior teste?
Daisy Ridley: Eu tenho um medo real de palco. Aconteceu esse ano. Fui fazer um teste pra um filme e estava muito quente. Eu estava usando algo que eu não podia usar com sutiã então estava usando um daqueles que cola. Comecei o teste e por sorte durou pouco. Eu ouvi um barulho e senti que um dos bojos tinha caído porque eu estava suando muito. Eu fiquei: “oh, caramba. O que eu faço?” Então eu juntei meu cotovelo ao lado do meu corpo e fingi que nada estava acontecendo. Então eu saí e fui dar tchau para o diretor de elenco e falei a ela o que aconteceu e ela disse: “Ah, eu tava imaginando se tinha acontecido algo…“
Hollywood Reporter: Você conseguiu o papel?
Daisy Ridley: Não. Tenho certeza que a pessoa que eles escolheram era muito melhor que eu.
Hollywood Reporter: Qual seu talento secreto?
Daisy Ridley: Eu sei tricotar muito bem. Eu faço cachecóis muito longos.
A entrevista também possui um vídeo (em inglês)