A revista Los Angeles Times realizou uma entrevista com o co-roteirista de O Despertar da Força e roteirista dos episódios V e VI. Segue abaixo a entrevista:
LA Times: Quando você lembra da agitação para o lançamento de “Império Contra-ataca” e “Retorno de Jedi”, como a antecipação e animação ao redor de O Despertar da Força é em comparação àquela época?
Lawrence Kasdan: Não há comparação. A forma que o mundo está conectado hoje, o fato de que tudo é instantaneamente disponível pra todos, que você lança um trailer e cinco minutos depois está por todo lugar do mundo – não havia nada disso naquela época. Lá nos anos 80, era tipo, “Você viu o trailer?” “Não, eu tenho que ir assistir a um filme que esteja passando”. Quero dizer, “Império” e “Jedi” eram grandes filmes. Mas era um mundo diferente.
LA Times: Assim, é difícil imaginar quão alto as expectativas podem chegar. Há predições que esse pode ser o maior hit de todos os tempos.
Lawrence Kasdan: São grandes expectativas. As expectativas dos negócios são meio que irrelevantes para mim. O que vai acontecer é o que vai acontecer. As pessoas irão assistir – importa em que posição o filme vai ficar na lista de todos os tempos? Eu acho que não, não mesmo. O que importa é que nós nos sentimos bem com o filme e achamos que pudemos completar todas aquelas coisas que planejamos? Eu já assisti umas seis ou sete vezes e eu me sinto muito bem com ele. Quando o filme começar, você não vai acreditar quão dinâmico e divertido ele é. J. J. fez algo grandioso.
LA Times: Quando você foi chamado a bordo de O Despertar da Força, você representou uma conexão com as raízes de Star Wars. Já imaginou alguma vez que você voltaria a franquia?
Lawrence Kasdan: Quando “Jedi” terminou, eu pensei: “Esse é o fim de Star Wars pra mim.” Eu fui pra longe, fiz muitas outras coisas. Quando algo é tão grande assim, está sempre com você, mas eu tive que tirar da minha mente. Em Outubro de 2012, recebi uma ligação de Kathy [Kennedy – Presidente da Lucasfilm] e ela disse: “Nós vamos fazer uns filmes. Você pode vir e conversar com George [Lucas] e eu?” Eu fui e George tinha algumas ideias pra uns filmes – não só uma nova trilogia mas outros filmes, os spinoffs e e tal. Eu não tinha certeza se queria fazer algo, mas eu disse: “Eu posso fazer o filme do Han Solo” – porque ele é meu personagem favorito. Então eles me contrataram para consultar no Episódo VII. E então dentro de semanas de repente a Disney comprou tudo e todo mundo ficou espantado. Quando nós conseguimos J. J. eu fiquei muito animado, porque eu pensei que ele era o cara ideal para dirigir esse filme. Eu não o conhecia bem mas quando o encontrei ele era tão engraçado e inteligente e irreverente sobre as coisas e ele entendia as virtudes do que estávamos tentando fazer antes. Quando ele aceitou, eu fiquei maluco.
LA Times: Como foi o processo de colaborar no roteiro?
Lawrence Kasdan: Nós fizemos ele sob muita pressão de cronograma mas na verdade foi o processo mais divertido que eu já tive. Nós discutimos a história enquanto caminhamos juntos, com ele gravando tudo em seu iPhone. Nós então produzimos os primeiros rascunhos em seis semanas. Trabalhamos durante o Natal. Foi muito revigorante.
LA Times: Sempre fez parte do plano trazer Luke Skywalker, Han Solo e a Princesa Leia e misturar com uma nova geração de personagens?
Lawrence Kasdan: Sim, a coisa básica foi: Estamos tratando como se tivessem passado 30 anos que vimos eles. E era legal porque nós todos vivemos 30 anos e todos nós mudamos. Nós não fingimos que era muito diferente que isso – 30 anos se passou, o que quer que isso signifique naquela galáxia, e nós temos Han, Leia, Luke, Chewie e C3PO, então esse era um elemento tão sólido e tinha tanta nostalgia e ressonância nas pessoas. E aí você tinha um novo cast – maravilhosos jovens, alguns muito jovens – que nunca estiveram em um filme. Não houve ninguém parecido como Adam Driver num filme de Star Wars. Daisy, John, Oscar, Domhnall – são novatos. Você sabe todos esses elementos vão se encontrar nessa história e você sabe todas as virtudes que você está tentando despertar. Isso conta muito a história e começa a dar forma ao filme. Então obviamente há algo sobre Darth Vader que é tão poderoso e que o filme abrange isso e é um novo elemento que você está trazendo. Os filmes sempre foram sobre gerações e famílias, e passar a diante o conhecimento e o que pode ser transferido e o que é inerente no universo. A Força sempre esteve por perto desde a primeira ideia de George sobre ela e essa coisa filosófica misturada com o elemento de ação – É uma poderosa mistura.
LA Times: Você em algum ponto assistiu a trilogia original pra deixar os filmes na mente?
Lawrence Kasdan: Os filmes estão na minha mente – eu acho que é parte do meu DNA. Mas eu não acho que é relevante porque estamos fazendo uma coisa nova. E é bem diferente.
Não sei se as pessoas reconhecem ou não, mas a saga é como esse grande tapete que é cortado em seções que são definidas pelos seus diretores. George fez um filme bem George e se você viu “American Graffiti” não vai se surpreender em ver a ebulição em “Uma Nova Esperança”. Então em “Império” ele disse: “Eu quero que esse próximo capítulo tenha a qualidade de Irvin Kershner.” E é sombrio e sério, e dá medo e trata dos personagens de forma diferente. Richard Marquand era um cara amável e “Jedi” tem esse essa coisa de “esse vai ser o final feliz” que ele trouxe.
Agora vamos para as prequelas por um segundo, onde George estava fazendo o que George estava fazendo e realizando seus desejos. Agora com J. J. você tem toda uma nova geração com um tipo de maestria dinâmica de câmera e efeitos mas colocados juntos por alguém que tem uma personalidade muito forte. Ele é um cara muito bacana e faz filmes do jeito que eu tento fazer filmes, por isso que é um privilégio fazer filmes e ninguém deveria se sentir mal com isso. Você está cuspindo na cara da sorte se não se divertir. E isso está dentro do filme. Então o que você terá é um filme de J. J. Abrams.
Esses filmes vão ser todos diferentes. Rian Johnson [Diretor do Episódio VIII] é um amigo meu – e ele vai fazer algumas coisas estranhas. Se você viu o trabalho de Rian, você sabe que vai ser algo nunca antes visto em Star Wars. Não se pode ter três pessoas mais diferentes que J. J., Rian e Colin [Trevorrow – Diretor do episódio IX]. Esses filmes vão ter a base da saga de Star Wars mas todo o resto será diferente. E aí Phil Lord e Chris Miller vão fazer o filme de Han Solo e eu não posso imaginar como vai ser – E eu estou escrevendo ele!
LA Times: Então Han Solo sempre foi seu personagem favorito de Star Wars pra escrever diálogos?
Lawrence Kasdan: Sempre. Começou com o primeiro filme e é um momento único quando eles entram no bloco de detenção e ele tem essa conversa com um stormtrooper através do comunicador. Eles o questionam e ele não sabe mais o que dizer e atira no comunicador e diz: “Era uma conversa chata mesmo”. Esse talvez é meu momento favorito em todo o Star Wars. E esse é o Han.
LA Times: Foi fácil voltar de novo para a cabeça de Han Solo após todos esses anos?
Lawrence Kasdan: Acho que sim, sabe, ele é mais jovem nesse filme e isso é divertido porque você tem que imagina ele 10 anos antes dos seus 20. Como era antes dele ficar mais durão? Antes ele teve alguns obstáculos? Antes de ele colocar aquela personalidade cínica? O que o fez chegar lá?
LA Times: As prequelas ocupam um lugar complicado no canon de Star Wars. Claramente elas foram a visão de Lucas e há toda uma nova geração em que esses filmes foram o ponto de entrada para o universo de Star Wars, mas muita gente mais velha sentiu que os filmes foram decepcionantes. O que pensa sobre esses filmes no sentido deles tomarem lugar no geral da história?
Lawrence Kasdan: A história [nas prequelas] não interfere. Nós apenas tivemos que trabalhar com a trilogia original então não tivemos muito com o que lidar. Elas certamente tem um certo sentimento e não era esse sentimento que nós queríamos que esse filme tivesse. Está muito mais relacionado a “Uma Nova Esperança” e “Império”.
[Pausa] A coisa que eu mais amo em Star Wars – E George tinha isso quando ele fez “Uma Nova Esperança” e J. J. pode se agarrar a isso com muita força – é que era meio atrapalhado, sabe? Há grandes problemas e filosofias – mas é basicamente atrapalhado. Acho que O Despertar da Força é atrapalhado, mas numa boa maneira. Quando aparece a questão: Isso podia acontecer? Bom, por quê não?
E quanto ao canon – todos se referem ao canon, bom isso tem zero significado pra mim. Eu não sei o que é o canon, não consigo entender direito.
LA Times: Há realmente alguns fãs mais hardcore em que tudo conectado a Star Wars é importante. Pra eles, ouvir você dizer que Star Wars é “atrapalhado” – algumas pessoas podem ficar: “Isso é coisa séria!”
Lawrence Kasdan: Esse é um grande elogio de mim, que é atrapalhado. Porque é o que eu amo em “Uma Nova Esperança”. Era muito atrapalhado!
Eu mostrei recentemente a meu neto de 5 anos porque nós estavamos tentando descobrir se ele estava preparado para O Despertar da Força. É muito assustador, muito grande, muito barulhento? Ele sentou nos meus braços e assistiu “Uma Nova Esperança” e ele ficou tocado pelo filme. Houve ciosas que ele não entendia, mas o que todo mundo entende quando assiste “Uma Nova Esperança” é que é divertido, é a energia e o romance do filme. Quando Luke e Leia atravessam o precipicio, quando as naves voam rápido – alguém de cinco anos não precisa de muita explicação pra isso.
“Uma Nova Esperança” é brilhante em muitas formas. Você sempre tem o temor de como economicalmente e enrolado ele é. Mas não há uma tomada perdida. O filme apenas se move tão rápido e é tão engraçado e trapalhão. Quando houve um momento em que podia haver apenas diversão pura, porque George estava sentindo, ele colocava lá. E é isso que eu espero que “O Despertar da Força” tenha.
Fonte: LA Times
1 comentário
Muito interessante essa parte do “atrapalhado”! Creio que esse filme terá aquela ação clássica do cinema do fim da década de 70 e década de 80… coisa que o JJ Abrams adora! Séra o clássico filme de aventura… aos modos antigos!