Contando as Guerras Clônicas – Especial de 5ª Temporada

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Enquanto eu luto para conseguir ter coragem de voltar na primeira temporada e continuar o projeto “Contando as Guerras Clônicas”, senti a necessidade de fazer este texto falando principalmente sobre o arco final da quinta temporada, cujo último episódio passou hoje nos E.U.A. e ninguém baixou pra ver. A compra da Lucasfilm pela Disney colocou vários projetos em situações bem diferentes e tirou eles do foco. Com The Clone Wars não foi diferente. Jogada para o sábado de manhã no Cartoon Network americano nesta quinta temporada, horário considerado péssimo se comparado ao horário anterior de sexta à noite, a série ficou mais de lado ainda no marketing em sua hora mais interessante: o aparente fim de um arco de cinco temporadas.

SÓ CONTINUE LENDO SE JÁ TIVER VISTO O EPISÓDIO FINAL!

É difícil saber o que levou à esta temporada mais curta, de 20 episódios e não 22: se o horário, a compra da Disney ou alguma insistência do Cartoon Network em se livrar logo do programa que na sexta temporada deve passar no canal Disney XD. O fato é que este último arco, centrado na polêmica Padawan Ahsoka Tano (aparentemente) fechou um arco de cinco anos.

Ahsoka é uma personagem que existe desde os primeiros esboços da série, quando a idéia ainda nem era centralizar a série em Anakin e Obi-Wan. Quando em Janeiro de 2008, 8 meses antes do lançamento do filme, o site oficial anunciou a existência da Padawan e que seu Mestre Jedi seria ninguém menos do que Anakin Skywalker, fãs se revoltaram e discussões acaloradas (inclusive aqui no Jedicenter) surgiram: quem é ela? De onde veio? Pra quê? Mas, principalmente, pra onde vai? Qual o motivo de ela não existir em ROTS?

Finalmente agora temos essa resposta: Ahsoka foi expulsa da Ordem Jedi e depois escolheu não voltar! Quem lê a seção sabe que não gosto da apresentação da personagem nas primeiras duas temporadas. Mas a partir da terceira temporada juntamente com a mudança de modelo de CGI veio os crescimento de personalidade e os roteiristas, quando possível, começavam a inserir dentro da cabeça da personagem as idéias de que o mundo não é tão preto e branco e que a milenar Ordem Jedi era passível de erros. Muitos!

Heroes on Both Sides, da terceira temporada, foi central nesse início. Ao retirar Ahsoka do lado de Anakin e levá-la junto com Padmé ao centro político Separatista e deixá-la ver o Congresso Separatista nas visões de Mina e Lux Bonteri, os roteiristas deram uma chance enorme de crescimento da personagem. Por detrás dos esquemas de Dooku e Ventress, haviam pessoas que realmente acreditavam no ideal separatista e que este idela não era ruim (apesar da sua aplicação nas mãos dos Sith). Surgiu também aqui o primeiro sinal de dúvida da população comum quanto à Ordem Jedi. Os auto-proclamados “guardiões da paz” não passavam de soldados numa guerra política.

Cada vez mais a Padawan ganhou oportunidades de brilhar sozinha, como a duologia Padawan Lost e Wookie Hunt (com Chewbacca) no fim de terceira temporada, a tetralogia de Onderon no começo da quinta temporada, onde Ahsoka treinou os rebeldes do planeta, seguida da tetralogia dos younglings também na quinta temporada foram decisivas no crescimento da Padawan. Decisivos também foram os encontros com Lux Bonteri, sempre em situações que faziam Ahsoka questionar seu ponto de vista.

Tudo isso culminou nesses últimos quatro episódios da quinta temporada. Sabotage poderia ter sido apenas mais um episódio da série, visto que foi apenas introdutório. Um ataque ao Templo Jedi, matando tanto Jedi quanto trabalhadores comuns, cidadãos de Coruscant alheios ao dia-a-dia da guerra e devotos da antiga Ordem. Anakin e Ahsoka prendem uma mulher que utilizou seu marido como homem-bomba. O episódio é apenas importante no sentido de apresentar o mistério a ser resolvido – qual Jedi seria o responsável pelo ataque terrorista – e principalmente a visão da opinão pública sobre os Jedi: apesar de Heroes on Both Sides já ter mostrado isso na visão separatista, pela primeira vez vimos dentro da própria República.

The Jedi Who Knew Too Much começa a parte realmente importante da história, o verdadeiro afunilamento de um trabalho começado muito antes. Começamos com uma cena bonita e pesada para uma série infantil: o sepultamento de vários Jedi. Quando você assiste essa parte pela segunda vez, a fala da Bariss Offee é particularmente perturbadora. A discussão de Tarkin e Ahsoka sobre a custódia da culpada passar dos Jedi para o braço Militar da República expõe claramente o grande buraco que se abriu entre as duas organizações que deveriam trabalhar juntas – um belo insight da Ordem 66. Outro insight é a fala de Tarkin sobre o Chanceler estar afastando os Jedi da guerra o máximo possível e de nunca fazer nada sem uma estratégia.

Quando Letta Turmond é morta e tudo é feito para parecer que Ahsoka foi a culpada, as coisas começam a ficar claras. A divisão Jedi/militares ficar mais clara ainda quando Anakin é proibido de falar com sua Padawan. Ahsoka ainda é enganada pelo key card, fazendo parecer uma idéia de seu Mestre e caindo em outra armadilha. Toda a fuga da jovem Jedi é eletrizante e bem cinemática, enquanto Anakin é enfático em não atirarem para matar, mas usarem tiro em atordoar. A ordem de Anakin deixa claro: se é criminoso e está fugindo, Clones atiram para matar. Ordem 66 manda oi.

A cena de Ahsoka pulando do tubo de água é baseada em O Fugitivo, de 1993, enquanto o nome do episódio é baseado em The Man Who Knew Too Much de Hitchcock. Temos aqui também uma ligação interessante com o trailer do (agora adiado) jogo Star Wars 1313: as entradas para o submundo de Coruscant. E fica tudo em aberto para o terceiro episódio do arco.

Too Catch a Jedi trouxe de volta Asajj Ventress, numa aliança que seria impensável duas temporadas antes, mas que já havia aparecido numa versão Asajj-Kenobi. As similaridades entre as duas aprendizes renegadas, Sith e Jedi, acabam sendo muito importantes para o episódio e também para o próximo. Ventress acaba não sendo mais dominada pelo lado sombrio, como é possível ver pela sua posição e pela capacidade de não matar os clones, embora clanamente despreze a Ordem Jedi. Os militares já definiram Ahsoka como culpada e o Conselho Jedi manda Plo Koon e Anakin atrás da Togruta. Todo o episódio se passa nos níveis 1312, 1313 e 1315,  numa clara ligação com o já citado jogo.

O episódio como um todo é interessante mas falha em esconder a identidade da verdadeira traidora: o disfarce que a verdadeira culpada usa para atacar Ventress e depois Ahsoka é ridículo. E o modelo em CGI está muito pouco modificado. O fato de Ahsoka ter impedido que a ligação fosse rastreada e as respostas pouco detalhadas de Barriss já davam uma idéia, mas a luta realmente estragou algo que devia ter sido revelado no último episódio. E mais uma vez Ahsoka foi pega em um local onde não devia estar.

Para o episódio final, The Wrong Jedi, os mais atentos já suspeitavam da verdadeira traidora, então sobrava realmente descobrir o destino de Ahsoka. Por pressão política, o Conselho Jedi a expulsa da Ordem e a entrega de bandeja para a justiça comum. Obi-Wan fica claramente consternado com a decisão, mas acaba não fazendo nada. Yoda e Mace Windu fazem papéis que eu classificaria como ridículos, enquanto Anakin se desespera para salvar sua antiga Padawan e mostra sua superioridade ao lutar com Asajj.

Enquanto Ventress destrói o Jedi com um simples argumento – ele e a Ordem não foram melhores com a togruta do que Dooku fora com ela – Padmé tenta salvar Ahsoka de um julgamento que não mais é do que um teatro, com todo o Conselho assistindo a pequena Jedi correr risco de morte. Perturbador, para dizer o mínimo. A batalha entre Anakin e Barriss foi muito bem feita, com vários Jedi ligados à Ahsoka e os Guardas do Templo assistindo de perto, com seus sabres ligados, em parte isolando os dois combatentes do resto do Templo e em parte não podendo agir diretamente. Devo dizer que fiquei curioso com estes que parecem ser os menos individuais dos membros da Ordem Jedi: uniformizados, sem faces e com sabres padronizados. Eis um design interessante para J.J. Abrams aproveitar.

Enquanto Anakin é visto feliz como em poucas vezes ao conseguir livrar sua Padawan, Ahsoka não ficou tão feliz. A mistura de alívio e decepção na cara dela foi clara. O discurso de Barriss é mais verdadeiro do que parece. Já os métodos não foram exatamente os melhores. Toda a liberdade de Ahsoka levou às cenas finais da temporada: um pedido dos membros do Conselho e de Anakin para que Ahsoka voltasse para a Ordem. A fala por parte do conselho beirou o ridículo novamente enquanto Anakin quase implorou duas vezes para o seu retorno. Acabamos a quinta temporada com o que pode ter sido a última imagem de Ahsoka na tela e pelo menos foi a última como Jedi.

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Episódios como esse me fazem lembrar o motivo de gostar de Star Wars, mas acima de tudo me fazem questionar as histórias que foram para o cinema. O espaço entre os Episódios II e III deveria ter sido preenchido com pelo menos dois filmes, três talvez. Este arco fala muito mais sobre a dúvida de Anakin em ROTS do quê qualquer coisa feita nos Episódios II e III. A raiva, a dor e a sensação de traição que Anakin deve ter sentido em relação ao Conselho Jedi neste ponto é muito mais humana do que uma mera raivinha por não virar Mestre e por não poder casar.

Estamos atingindo o fim da série. Extra-oficialmente falta apenas a 6ª temporada e as coisas devem ficar bem mais sombrias ainda. Não sei se Ahsoka aparecerá na sexta temporada ou como aparecerá, mas este episódio foi certamente um ótimo fechamento para um ciclo e ainda matou as dúvidas que já duravam 5 anos na cabeça dos fãs .

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