RESENHA | “Dawn of the Jedi: Force Storm”

Iniciada em 2012 nos Estados Unidos, a série Dawn of the Jedi marcou uma era inédita no antigo universo expandido. Isso porque Tempestade da Força, arco preliminar da história, apresentou aos leitores o período anterior à Velha República.

Sendo mais claro, o enredo escrito por John Ostrander se colocou em um passado extremamente distante da saga (36.000 BBY – 25.000 BBY, de maneira aproximada), previamente aos acontecimentos vistos na trilogia Darth Bane, na jornada de Ulic Qel-Droma e Exar Kun, e até mesmo dos irmãos Daragon na Era de Ouro dos Sith.

Por conta dessa diferença colossal de tempo que estes quadrinhos fugiram um pouco do conhecido pelos fãs. Entretanto, conceitos clássicos alusivos à Força, e inclusive aos lados da luz e sombrio, não foram abandonados.

O universo pré lado luminoso x lado negro

Qualidade relevante na primeira edição, a abordagem do universo antes da polarização das vertentes sombria e luminosa enche os olhos. O roteiro de Force Storm a princípio nos leva há dez mil anos antes dos fatos presenciados na história linear da HQ. E nessa época, para possível surpresa de alguns, ainda não havia o famoso embate entre o lado da luz e sombrio, e muito menos entre Jedi e Sith.

Além disso, a Ordem Jedi vista na trilogia prequel e outros materiais da saga também não marca presença neste contexto. A trama elaborada aqui introduz o código e organização Je’daii, predecessor dos costumes Jedi.

Dai Bendu Order

Os Bendu meditando para a Tho Yor

 

Entretanto, antes mesmo de os Je’daii surgirem, um dos grupos primitivos ligados à Força deu o passo inicial para a tradição Jedi existir do jeito que conhecemos: os Dai Bendu. Eles meditaram em nome de uma estrutura piramidal a qual pousou no planeta Ando Prime. Os Bendu sentiam que a construção era nitidamente poderosa na Força, concedendo-a o apelido de Tho Yor.

Após anos conectados com a edificação misteriosa, o Tho Yor revelou-se como uma nave, abrindo suas entradas para o povo da ordem Dai Bendu. De modo curioso, essa pirâmide não somente permitiu acesso a eles, mas simultaneamente, por intermédio da Força, os convocou para embarcarem. Cabe neste ponto uma singela pausa com o intuito de destacar positivamente o uso da Força pelo autor. Durante os capítulos de Force Storm, John Ostrander só melhora as habilidades e contatos relacionados ao campo de energia criado por todas as coisas vivas na galáxia.

Paralelamente ao fenômeno presenciado em Andor Prime, mais sete Tho Yor realizaram viagens por inúmeros planetas da galáxia, também recrutando outros povos sensitivos a Força. Entre os principais alienígenas convidados temos os Wookiees, Twi’leks, humanos e Zabraks. Algo que chama a atenção nesse processo é a forma como as naves estabelecem um vínculo com cada espécie. Por exemplo, no planeta Dathomir, lar de Darth Maul, o Tho Yor comunicou-se com as bruxas através de suas visões e sonhos, característica intimamente ligada aos Dathomirianos. Já em Kashyyyk, os Wookiees depois de muito tempo abaixaram suas armas e decidiram-se acatar o convite do Tho Yor. Mais uma vez a HQ acerta em cheio no uso da Força.

Tython e a busca pelo equilíbrio

Detendo uma vasta quantidade de alienígenas, as Tho Yor viajaram pelos lugares mais perigosos possíveis. Entre eles, buracos negros, áreas inexploradas, e outras ameaças que podem ser encontradas durante uma jornada Star Wars. Enfrentando esses desafios, as embarcações piramidais chegaram no mundo de Tython. Lá, reuniram-se com uma Tho Yor maior que o comum. A partir dessa associação, os viajantes foram despachados rumo a diversas localizações do sistema, formando assim o povo Tythaniano.

Ashla and Bogan

O equilíbrio: Ashla e Bogan

 

Incumbidos de estudar a Força, a nova população  se deparou com duas luas vitais para a história: Ashla e Bogan. Alicerçado nelas, o entendimento sobre a luz e as trevas despertaram nos habitantes. Neste ponto, o conceito de lado luminoso e sombrio é iniciado. A ideia não é tão debatida neste arco, mas nas suas sequências é excepcionalmente desenvolvida.

A luz define as trevas e as trevas cria a luz. Quando a balança não é mantida, Tython reage desequilibrado com várias tempestades e terremotos.

A dualidade da Força fez com que a sociedade Tythaniana buscasse pelo equilíbrio. Essa procura deu origem aos Je’daii, que remete a um termo Dai Bendu significado centro místico. Por meio do equilíbrio, os Je’daii esperavam manter o mundo de Tython pacífico, longe das catástrofes naturais geradas pela ausência da estabilidade entre luz e trevas.

O tempo após a instituição dos Je’daii passou, e com isso eles passaram a se organizar. Cidades, templos, locais de aprendizado e centros de informação foram construídos, todos em volta de uma determinada Tho Yor. Basicamente, as propriedades e suas funções assemelham-se ao visto nas páginas do livro O Caminho Jedi. Ostrander merece aplausos por ter procurado respeitar o já convencionado nos períodos posteriores da cronologia.

Deixando de lado a criação dos Je’daii, alguns eventos infortúnios também ocorreram nesta época. Determinados habitantes que vieram junto das Tho Yor precisaram abandonar Tython. Isso visto que nem todos possuíam muita afinidade com a Força, incapacidade que prejudicava a sobrevivência no sistema. Inúmeras espécies acabaram morrendo justamente por não terem como enfrentar os perigos detectados, a exemplo das criaturas selvagens. A saída dos que não portavam uma conexão com a Força caracterizou o movimento de migração. Concomitantemente, outros alienígenas mais adaptados eram trazidos para Tython.

A Guerra Déspota

Melhor explorada no livro Dawn of the Jedi: Into the Void, a Guerra Déspota é o último acontecimento narrado antes da história principal da HQ começar para valer. Nesse embate, a rainha Hadiya tentou unir, sem sucesso, os chefes do crime do planeta Shikaakwa com a meta de conquistar o sistema Tython. Além de ter sido uma batalha violenta, ela ficou conhecida como uma das primeiras lutas que os Je’daii triunfaram.

Dawn of the Jedi: Despot War

A Guerra Déspota

 

Entretanto, decidi reservar um breve espaço da resenha sobre esse fato não por sua importância, mas sim pelo comentário do personagem Mestre Ketu a respeito do conflito. A observação dele reforça a temática do equilíbrio, e expande a discussão do uso tanto da vertente luminosa, quanto da sombria. Com certeza é a questão mais pertinente e interessante de Tempestade da Força.

Odiar é compreensível. Assim como a raiva. Raiva tem sua utilidade. Tão claramente como o fogo. Mas alguém nunca deve apenas sentir ódio ou raiva. Isso nos tira de equilíbrio. Na luz, há trevas, e nas trevas, há luz. Esse é o caminho para todos nós. Não ser um prisioneiro nem de Bogan ou de Ashla, viver em equilíbrio. Como Tython nos ensinou.

O Império Rakata

Do mesmo modo que o Império de Darth Sidious dominou incontáveis planetas, o Império Infinito dos Rakata age similarmente nesta fase anterior à instalação da República. Porém, é adequado dizer que os vilões de Tempestade da Força operam sob esse objetivo conquistador através de um meio deveras cruel, enriquecendo a narrativa.

Analisando as leituras do Legends e do atual universo expandido, nota-se que o Império Galáctico instaura o seu comando nos territórios os quais podem oferecer benefícios. Em certas necessidades, a população desses planetas acaba sendo escravizada ou trabalhando para o regime sem ter alternativas locais. Apesar disso, os habitantes praticamente nunca são usados nas forças militares (desconsiderando o alistamento de jovens nas Academias).

Surpreendentemente, os Rakata também empregam uma parcela das colônias subjugadas como guerreiros de seu Império, diferenciando-se assim do visto em histórias clássicas.

Infinite Empire Rakata

Os Rakata junto de um Force Hound

 

Os soldados de elite dos Rakatanianos são apresentados em Tempestade da Força como os cães de caça da Força, ou utilizando a nomenclatura original, Force Hounds. Particularmente, junto das luas de Ashla e Bogan, esses gladiadores dos Rakata ocupam o posto de idealização mais bem construída da HQ. É intrigante ver como o Império Infinito consegue extrair de seus domínios seres sensitivos capazes de lhe servirem, e não somente isso, mas a continuar o processo de escravidão e influência pela galáxia a partir destes cães de caça.

Todavia, nem todos sensitivos tornam-se Force Hounds. Os incapazes de servirem em batalha aos governadores do Império Infinito, conhecidos pela alcunha de Predores, trabalham na construção de super armas ou têm suas emoções do lado sombrio drenadas com o intuito de gerar energia para as máquinas de guerra dos Rakata.

Ademais, os Predores sobressaem-se no enredo de Force Storm.

Skal’nas e Tul’kar são os dois comandantes do Império, mas o Predor Skal’nas possui um rank superior na cadeia de comando. Conforme já mencionado, eles assenhoram os próprios cães de caça da Força, os quais obedecem diretamente às suas ordens. Usualmente, a maioria das missões envolve a conquista de novos planetas com espécies poderosas na Força. O Force Hound de Skal’nas é um dos personagens centrais da HQ, e receberá atenção no próximo tópico da resenha.

O chamado da Força

Depois de dissecar a origem dos Je’daii e introduzir os vilões de Tempestade da Força, agora é imprescindível comentar sobre os personagens e o enredo que preparam o terreno para os arcos seguintes, Prisioneiro de Bogan e Guerra da Força.

Os heróis da HQ começam a ser mostrados na segunda edição, permitindo que o leitor descubra um pouco acerca da personalidade e de seus laços de amizades. Apoiados nessa abordagem, os protagonistas Shae Koda, Tasha e Sek’nos rapidamente estabelecem um vínculo com quem está desbravando as páginas da trama, facilitando assim o desenrolar da mesma.

Shae Koda, Tasha and Sek’nos

Da esquerda para a direita: Tasha, Shae Koda e Sek’nos Rath

 

Criada por seus pais até perdê-los na Guerra Déspota, Shae Koda alcançou a posição de Journeyer na Ordem Je’daii. Esse status conferia-lhe uma classificação acima a de Padawan. No decurso de suas viagens entre os Templos, Koda estudou sob a orientação do Mestre Quan-Jang no Templo da Ciência, Anil Kesh. Juntos, eles utilizaram de técnicas da alquimia para dar vida ao Rancor-dragon, o qual Shae Koda apelidou de Butch.

Diferenciando-se de Koda, Tasha Ryo tinha pais com condições opostas. Sua mãe, Kora Ryo, era Mestre Je’daii no Templo do Conhecimento. Seu pai, Volnos Ryo, desempenhava o papel de Barão em Shikaakwa. Ao atingir a maioridade, Tasha foi treinada nos caminhos da Força. Preferindo usar suas habilidades para se defender, Ryo conquistou também o ranking de Journeyer. No transcorrer de sua vida, Tasha precisou encarar duas facetas desafiadoras. Uma delas era cumprir os seus deveres para com a Ordem Je’daii. Já a outra envolvia suportar as demandas de seu pai, o qual desejava ela dentro de seu império criminal.

Filho de diplomatas Je’daii, Sek’nos Rath foi criado pela avó materna, Miarta Sek e pelo avô paterno, Thok Rath. Após aprender diversas técnicas e lições com sua família, ele atingiu a qualificação de Journeyer.  Na missão de forjar a arma perfeita, Sek’nos se instruiu em Vur Tepe com Tem Madog. Sob a tutela de Madog, Mestre do Templo da Forja, Rath forjou três lâminas imbuídas pela Força.

Seguindo caminhos divergentes na Ordem Je’daii, Shae, Tasha e Sek’nos acabam interligados por um chamado da Força. Essa convocação retira os personagens de suas jornadas convencionais, e como resultado desencadeia uma série de eventos. A propósito, as visões recebidas pelos personagens são idênticas, direcionando as atenções para Xesh, o Force Hound de Tul’kar.

Force Hound Xesh

O cão de caça da Força, Xesh

 

Antes do chamado, o cão de caça fora enviado para Tython com a finalidade de escravizar o sistema. Xesh se destacou como um dos Force Hounds mais prestigiados dos Predores, e por conta disso foi o escolhido. O personagem aliado aos vilões além de possuir um design cool, ostenta habilidades incríveis com a Força e especialmente com o Forcesaber, arma antecessora do Lightsaber.

Respaldado por suas capacidades de rastrear planetas fortes na Força, Xesh consegue encontrar Tython. Neste instante, os heróis, localizados em diferentes regiões, auferem uma visão do Force Hound. O chamado assusta os três Je’daii. A presença de Xesh transmite somente poderes do lado sombrio, provocando um desiquilíbrio na Força. Diante dessa ameaça, eles se unem para impedi-lo e restaurar o equilíbrio em Tython.

Hora de virar um Je’daii!

Se você é um fã curioso, provavelmente ficou com vontade de ler Tempestade da Força. E aconselho que você faça isso o mais breve possível. A HQ é completa no sentido de ter uma história própria, e mostrar também a origem de vários conceitos da saga. Isso é feito através de personagens ótimos, misturando originalidade e ideias já estabelecidas em Star Wars.

Portanto, torne-se um Je’daii!

2 comentários

    • Visio em 8 de janeiro de 2018 às 19:32
    • Responder

    Cara, artigo muito detalhado e incrivelmente bem escrito. Valeu a pena a visita! Parabéns meu velho, continue evoluindo sua escrita, está em um nível admirável de qualidade!
    Novamente: parabéns!!!!

      • Lucas Dirani em 8 de janeiro de 2018 às 22:19
      • Responder

      Muito obrigado, cara! Fico feliz com os seus elogios, e espero ver você por aqui mais vezes 🙂

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