Lembram quando um dos trailers de Star Wars Rebels nos apresentou a Mestre Jedi Luminara Unduli viva? Isso gerou várias discussões e especulações, a maioria sobre como a Mestre Jedi teria sobrevivido, quando iríamos vê-la e o que seria do futuro dela. Rise of the Old Masters, terceiro episódio regular da primeira temporada, chega para responder todas estas questões, apresentar o Inquisidor e, principalmente, para ser o melhor episódio da série até agora, aquele a ser batido. Vamos conosco nesta viagem para Stygeon Prime .
Lembrando sempre que este review assume que você já viu o episódio ou que não se importa de ler spoilers.
Clique aqui para os episódios anteriores.
Curiosidades:
- A prisão em Stygeon Prime conehcida como A Espiral é a mesma localização secreta onde Darth Maul foi mantido na série em HQ Darth Maul: Son of Dathomir. O local foi criado para um episódio de The Clone Wars que nunca foi completado. Darth Maul: Son of Dathomir é a minissérie que adaptou esse arco não finalizado de episódios para os quadrinhos.
- A última vez que vimos Luminara Unduli ela estava comandando clone troopers nas praias de Kashyyyk. O texto do site oficial diz que as circunstâncias da sua morte não foram mostradas (há uma sequência em animatic do Episódio III no box de Blu-ray onde ela é derrubada por tiros vindos de um círculo de clones), mas que seus ossos foram colocados em uso pelo Inquisidor. Contudo, Dave Filoni tem uma explicação para a morte dela, que comentarei no texto.
- As criaturas que são atraídas pela nave Phantom são chamadas tibidees. Esse nome vem do fato de, por um tempo, elas foram classificadas como TBD pelo time de produção, o que significa que o nome estava “To Be Determined” (para ser definido, em inglês).
- O Inquisidor identifica a Mestre de Kanan como Depa Billaba. Depa aparece no Conselho Jedi nos Episódios I e II. Ela será vista junto com seu Padawan adolescente na vindoura série em HQ Star Wars: Kanan – The Last Padawan, escrita por Greg Weisman e com arte de Pepe Larraz.
- A voz de Gall Trayvis, Senador exilado é feita por Brent Spiner, que é melhor conhecido como o android Tenente Comandante Data em Star Trek: A Nova Geração e em 4 filmes baseados na série de TV.
Opinião do M’Y: Rise of the Old Masters começa com Kanan tentando treinar Ezra com a Ghost parada entre as nuvens. Não só é um lugar que deixaria qualquer espírito em paz, mas é provavelmente o local mais seguro no planeta Lothal para se fazer isso. Logo já somos apresentados àquela velha frase de Mestre Yoda: “Faça ou não faça, não tente” (me perdoem se não estiver lembrando a tradução exata que usam nos filmes dublados, a última vez que vi Star Wars dublado foi em VHS). Ezra questiona a frase, que é um pouco ambígua de fato, e Kanan não consegue explicar. Olhamos para Kanan nesta série adulto e tentamos ver nele alguém como Obi-Wan ou mesmo como Anakin, que possuíam um bom conhecimento da Força com essa idade. Porém, devemos lembrar sempre de um detalhe: Kanan tinha apenas 14 anos quando a Ordem 66 aconteceu. Isso pegou até um dos nossos aqui da equipe do Jedicenter. De acordo com o antigo UE, hoje Legends, Obi-Wan tinha 25 anos em TPM, 3 a menos do que Kanan tem em Rebels e Anakin quase 23 em ROTS, 5 a menos do que Kanan. Porém, ambos foram treinados por muito mais tempo do que Kanan. Importante: 14 anos é a idade que Ahsoka tinha quando se tornou aprendiz de Anakin. Isto significa que o conhecimento dele, por mais que seja um adulto, é similar ao de Ahsoka durante a primeira temporada de The Clone Wars.
Quando tenta fazer Ezra ficar focado e não funciona, Kanan tenta mudar para treino de sabres-de-luz. Aqui já vemos a primeira curiosidade: o sabre de Kanan tem a lâmina ajustável, o que é o primeiro sabre a fazer isso dentro do novo canon. Ezra não consegue acertar nenhum pote e Kanan vai ficando impaciente, até que Ezra finalmente cai, sendo salvo por Kanan em um grande esforço e por Zeb. Chopper, como já vimos anteriormente, continua sendo um excelente troll. Temos aqui a primeira discussão entre mestre e aprendiz, quando Kanan diz que Ezra é indisciplinado e cheio de dúvidas sobre si mesmo – porém, talvez até inconscientemente, Kanan tem claramente os mesmos problemas quanto a ser um mestre, o que se torna o tema central do episódio.
Apesar da série ser episódica e não em arcos, vemos um senso de continuidade: o roubo do TIE Fighter no episódio anterior atingiu a Holonet, internet galáctica. Obviamente a pesada mão da propaganda imperial muda os fatos, argumentando que o TIE foi utilizado para atacar trabalhadores inocentes. Cortamos para o que aparenta ser uma transmissão pirata, com o Senador exilado Gall Trayvis falando que a Mestre Jedi Luminara Unduli está mantida viva em Stygeon Prime e que os cidadãos do Império exigem que o Imperador a conceda um julgamento justo. Kanan diz que a conheceu apenas uma vez e que ela seria uma excelente professora para Ezra, o que deixa o garoto muito frustrado com a possibilidade de ser entregue a uma desconhecida.
Sabine é extremamente empolgada com as defesas da Espiral, única prisão Imperial no sistema Stygeon. Kanan surge com um plano que parece ser uma loucura, mas é o único possível, esperando que o Império também pense que é loucura. Somos apresentados à Phantom, pequena nave que fica acoplada na traseira da Ghost. Ainda que apenas um Padawan mal treinado, Kanan ainda é muito superior aos stormtroopers. Enquanto isso, Ezra tentando impressionar Kanan quase causa um fim prematuro para a missão. Temos mais discussões entre mestre e aprendiz, com Kanan de novo falando que Ezra necessita da Mestre Luminara. Tivemos vários episódios em The Clone Wars onde pudemos ver o resultado do treinamento de Luminara em Barriss Offee: extremamente disciplinada, obediente e eficaz, embora esta obediência e disciplina não a tenha impedido de flertar com o lado negro e incriminar Ahsoka Tano. E lembrar destes episódios me fizeram pensar o quanto Ezra sofreria na mão de uma Mestre como Luminara. Em entrevista para o IGN, Dave Filoni, produtor da série e também de The Clone Wars, tocou no assunto de Barris Offee ao responder uma pergunta sobre o motivo de o Império não matar direto todos os Jedi que encontram, mas manter alguns como prisioneiros:
“Eu imaginaria que saindo da era das prequels – fãs podem não acreditar nisso, mas eu acredito que é verdade – que haveriam alguns Jedi que foram tão afetados pelas Clone Wars que eles tentariam ficar vivos jurando lealdade ao lado negro. Eu não acho que esteja fora de questão. Eu acho que é perfeitamente aceitável, embora nós não tenhamos feito isso até agora. Principalmente devido ao fato de que isso entra em áreas cinzentas e eu temo que nós teríamos que ser muito claros e específicos sobre quem e quais os motivos disso. Barriss Offee em várias maneiras entra nisso em The Clone Wars. A parte legal é o quão certa ela está sobre tudo e ainda assim ela é considerada culpada… mas não morta, evidentemente.”
Kanan consegue sentir a Mestre Jedi, mas algo está estranho. É possível que a dificuldade de Kanan em entender o que está estranho na Força venha da sua falta de treinamento, mas também do fato de não ter realmente conhecido a Mestre Jedi. Sabemos que a ligação entre duas pessoas aumenta essa percepção do que está errado e do que não está.
Enquanto dentro da prisão o plano muda de novo, e vemos Sabine e Zeb sendo bastante irônicos quanto a isso, voltando para Hera estacionada do lado de fora, temos uma surpresa: a Phantom emite sinais similares ao chamado de acasalamento dos tibidees, grandes raias voadoras. Esta é a cena mais desnecessária de todo o episódio e que daria para ser resolvida de outra maneira. Parece que simplesmente pensaram em 5 minutos durante um happy hour em uma solução para não deixar Hera de fora do episódio. Este pedaço da história tirou pelo menos 1.0 da nota final.
Voltando para a ação, Ezra nota que Kanan não está brincando nesta missão – e realmente vemos o Jedi sendo mais sério do que o normal e demonstrando mais suas habilidades, inclusive com o mind trick em dois storms que nunca viram a Mestre Jedi. O fato destes dois guardas nunca terem visto ela, mesmo guardando sua cela, é um indicativo do que está por vir. Se lembrarmos de Rookies, episódio 5 da primeira temporada de The Clone Wars, troopers podem ficar muito tempo em postos avançados como esta prisão e é extremamente improvável que os dois guardas de Unduli não a teriam visto se estivessem ali há meses.
A cena seguinte é a mais forte do episódio e da série até agora: mestre e aprendiz entram e encaram Luminara com o olhar quebrado, triste, sem esperanças, com o corpo se movendo quase que como uma criança. Ela levanta, olha para eles e se move em direção a uma tumba, onde atravessa sua parede e se revela um corpo mumificado. Quando os dois não entendem, chega o Inquisidor, com uma trilha sonora muito sombria e muito boa, explicando que a Mestre Luminara morreu com a República, mas seus ossos continuam servindo o Império. Na mesma entrevista para o IGN, Filoni explica essa cena, tornando-a ainda mais sombria:
“Literalmente, o que você vê naquele holograma, é ela sentada, esperando para ser executada. É uma gravação daquele evento. Então quando eles entram e veem ela, eles estão na verdade parados onde o Inquisidor estava parado quando aquilo foi gravado. E então quando ela caminha e olha para eles de maneira distante e não muito amigável, ela está olhando para o Inquisidor e é isso que é a gravação. Então ela entra naquela câmara e obviamente é morta ali. É realmente perverso quando você pensa sobre isso. O material do corpo dela é a essência do que Kanan está sentindo através da Força. Mas ele sabe que há algo estranho sobre isso. Mas como ele não conhecia Luminara de verdade, ele não sabe realmente. Isso é uma das coisas interessantes sobre a morte e então o lado sombrio e todas as diferentes maneiras que você pode usar a Força. Sentir as pessoas é um dos grandes dilemas, eu acho, em toda a saga, pois as pessoas querem usar isso como se fosse um detector de metais. Eu estou muito, muito convencido de que isso realmente se relaciona com o quanto você conhece alguém e a intenção de uma ameaça. Então claro que quando Obi-Wan chega na Estrela da Morte, Anakin sabe disso. As intenções de Obi-Wan são muito claras, o que ele quer fazer. Ele até, eu acho em algum nível, sabe que ele irá lutar com Vader. E eles se conheciam tão bem, eram tão próximos. É como algo batendo em você.”
O Inquisidor também explica que isso já foi usado outras vezes para atrair outros Jedi para suas mortes, o que Filoni também explica que é uma maneira de mostrar como vários Jedi que sobreviveram à Ordem 66 podem ter morrido, sem necessariamente fazer um episódio específico para cada um deles. Este fato me fez pensar se a transmissão do Senador era verdadeira ou ao menos recente, ou se não foi transmitida diretamente apenas para a Ghost para atrair Kanan e Ezra, ou até se este Senador realmente existe.
Quando fica claro que tudo foi uma grande armadilha e que as comunicações foram cortadas, Kanan parte para o ataque e em poucos instantes o Inquisidor consegue identificar que ele foi Padawan de Depa Billaba. Aqui o que foi feito para dar ênfase na capacidade mental do vilão acabou me desanimando um pouco. Explico: o Inquisidor relata que os arquivos do templo Jedi são bastante completos e que Depa Billaba favorecia a forma 3, além de adicionar que Kanan favorece ela “de maneira ridícula”. Contudo, se considerarmos o material previamente estabelecido, existem apenas 7 formas de luta ensinadas no templo e cerca de 10 mil Jedi – o que deixariam cerca de 1400 opções de mestres para Kanan, fazendo matemática burra. Ezra tenta ajudar utilizando seu estilingue, que foi útil apenas no primeiro episódio e não funciona nem em stormtroopers. Serviu apenas para ganhar tempo para a fuga. Voltando para a batalha propriamente dita, fica clara a superioridade do imperial. O Inquisidor chega a ser friamente cruel quando pergunta a Kanan se não ensinou nada ao garoto após Ezra nunca ter ouvido falar do Lado Negro.
Enquanto isso, cabe a Sabine e Zeb enfrentar os stormtroopers que estavam prontos para a cilada, explodindo um elevador e desabilitando outros dois. Essas cenas fazem sentido dentro do episódio todo, mas não são elas as que prendem a atenção do espectador. O que temos, de fato, é a batalha, que termina com Kanan salvando Ezra pouco antes do reencontro com o resto da equipe. Com Sabine desconectada do sistema e Ezra levando um choque digno de R2-D2, temos outra das cenas significativas de Ezra com a Força: mestre e aprendiz se juntam para fazer o que nenhum dos dois conseguiria, abrir a porta.
E quando a gente estava de novo no clima, o que acontece? Surge uma frota de tibidees no cio para salvar o dia e deixar o Inquisidor com mais cara de poucos amigos ainda. Chegando de volta em Lothal, vemos mestre e aprendiz aparentemente se entendendo e entendendo o que significa a frase de Yoda: você tem que acreditar que conseguirá, não apenas tentar. Aí temos um típico bug de animação da década de 60: o milagre da multiplicação dos objetos que Kanan atira em Ezra, mas nada que apague o brilho do episódio.
Conclusão: Demorei para terminar esse texto, o que me permitiu uma posição um pouco mais distante. Rise of the Old Masters tem sim seus defeitos, mas acima de tudo é um grande episódio. Tem muito da magia de Star Wars que falta em algumas encarnações da saga, e mistura muito bem os dois mundos, TC e Prequels – ainda que pela própria época da série, puxe mais para TC. Se em algum momento havia dúvidas da qualidade da série, este é o episódio que me fez ter certeza de que ela é uma série a se acompanhar.
Nota: 8.0 de 0 a 10
STAR WARS.COM REBELS RECON #4