RESENHA | “Battlefront: Companhia do Crepúsculo” de Alexander Freed

Livros que fazem ligações com o lançamento de jogos acabam caindo em uma dessas duas categorias: Ou são apenas meios de divulgação feitos para vender o quanto a história é grandiosa (que acaba afetando os livros da série Assassin’s Creed ou Halo) ou acabam sendo histórias excelentes que alcançariam um público maior de leitores se não estivessem presos no estigma de ser apenas um romance de ligamento (e aqui podemos citar os excelentes livros da série Mass Effect).

Battlefront: Companhia do Crepúsculo entra na segunda categoria.

Após a rápida destruição da primeira Estrela da Morte, o livro documenta as façanhas da 61ª Infantaria Móvel, apelidada de Companhia do Crepúsculo; uma equipe de soldados rebeldes ajudando a Aliança a fazer um retiro estratégico de Yavin para sua base secreta em Hoth. O sargento da equipe e personagem principal do livro, Hazram Namir, viaja com novos recrutas e veteranos para as diversas batalhas dos filmes. Namir acaba por capturar o governador deposto de um mundo controlado pelo Império, que revela um plano de ataque que pode acabar garantindo a vitória para os Rebeldes e colocar um fim às maquinações do governo.

O livro não passa a sensação de ser um romance de ligamento e muito menos se apropria do hype gerado pelo jogo. Não temos a impressão que ele tenta vender uma experiência virtual incrível que vai te fazer gastar R$ 100,00 (e outros 100 nas DLCs).

Battlefront: Companhia do Crepúsculo é filho do casamento de Band of Brothers e Firefly passado no universo de Star Wars. Namir e o resto do bando têm um humor ríspido e são personagens críveis vivendo em uma nave caindo aos pedaços enquanto os horrores de uma guerra intergaláctica se tornam presentes por meio de grandes baixas e da muito provável possibilidade de derrota. É uma história que foge dos filmes episódicos e chega bem perto de obras como O Resgate do Soldado Ryan, The Pacific e, é claro, Rogue One (lançado apenas um ano depois).

Isso vai te afastar, ou tornar o livro mais interessante. Pessoalmente, eu amei que Battlefront partiu tão ardentemente do tom estabelecido do universo. Não é o tipo de coisa que eu leio frequentemente, mas conforme comentei em nossa crítica de Rogue One, as ousadas mudanças de tom da Saga são sempre bem vindas e nesta obra está representada com tal força e talento que é difícil não gostar da abordagem.

Sendo o primeiro livro de Alexander Freed, é um começo seguro e confiante (ele já trabalhou em HQs de The Old Republic e, em uma escolha editorial acertada, escreveu a novelização de Rogue One, mais tarde). Freed escreve com uma prosa descritiva que só contorna a borda dos floreios, confiando principalmente em frases curtas e palavreados que evocam a sensação de tempos de guerra e de estar no chão com comunicação escassa. O livro fala predominantemente nos mesmos tons rápidos que os personagens usam quando se infiltram numa base Imperial ou sobrevivem à Batalha de Hoth, enquanto os momentos mais leves estão à bordo da nave, repletos de diálogos espirituosos e um sentimentode camaradagem. Com ótimas obras de Freed, Chuck Wendig e Claudia Gray, parece que sangue fresco era exatamente o que o Novo Universo Expandido precisava.

Enquanto o clima pesado é muito bem vindo, ele pode ficar um pouco excessivo às vezes. As mortes ocorrem de subito, a maior parte fora das páginas, e os personagens são aqueles que só conhecemos por uma páginas ou duas. Namir reage à maioria das mortes com profissionalismo e desapego, pelo menos o livro não está nos pedindo para derramar lágrimas pelo recém-falecido Camisa Vermelha, mas ainda parece estranho que essas mortes são mencionadas tão casualmente. Acho que isso faz parte da guerra, no entanto, onde a morte é abundante e o desapego é necessário se você quer continuar lutando.

E é sobre isso que o livro é no final das contas: guerra. Enquanto há momentos brilhantes no calor da batalha, a força do livro reside em mostrar o inferno que é ao conflito e a falta de glamour e glória daqueles que não tiveram tanta sorte de nascer um Skywalker, Solo ou Organa. Pode não ser o maior indicativo do estilo espacial operístico que a Saga representa em seus episódios cinematográficos, mas definitivamente faz jus ao “Wars” da marca.


O exemplar para esta resenha foi cedido pela Editora Aleph.

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