O antigo universo expandido de Star Wars apresenta muitas histórias curiosas. Uma delas é a série Dark Empire, lançada originalmente em 1991-1992 e que nos anos seguintes ganhou duas sequências: Dark Empire II (1994-1995) e Dark Empire III: Empire’s End (1995-1997). Quando classifico a HQ de maneira singular, não desmereço sua narrativa ou até mesmo os personagens envolvidos na trama. Principalmente, porque Dark Empire tem conceitos instigantes, como o processo de clonagem e imortalidade do famoso sith Darth Sidious. Logo a seguir, mostro a você, leitor, essas e outras peculiaridades da obra!
Identificando a aventura na linha do tempo
Antes de nos aprofundarmos nos eventos dos quadrinhos, precisamos saber a época em que Dark Empire se encontra na linha do tempo de Star Wars. Todos os acontecimentos da série ocorrem dez anos após a Batalha de Yavin (10 ABY). Ou seja, sucedendo em um ano a famosa Trilogia Thrawn (Heir to Empire, Dark Force Rising e The Last Command – 9 ABY). Vale lembrar que a história está inserida no universo Legends. Portanto, não pertence à cronologia oficial da franquia.
Há muito tempo… numa galáxia muito, muito distante…
Passados seis anos da Batalha de Endor, o temido Almirante Thrawn por pouco não derrubou o governo estabelecido pelos rebeldes. Posteriormente a sua derrota, alguns membros remanescentes da cúpula do Imperador, em conjunto com ex-comandantes da frota, assumiram novamente o controle sobre o sistema de Coruscant. Contudo, a Nova República, sem ter intenções de desistir, passou a arquitetar ataques surpresa por meio de destroieres estrelares capturados. Um desses assaltos, no mundo-sede da Cidade Imperial, trouxe problemas sérios aos antigos heróis Luke Skywalker e Lando Calrissian: o Liberator, destroier roubado dos imperiais, foi abatido e caiu na superfície do planeta.
Sabendo do ocorrido, Leia e Han Solo, acompanhados do nosso querido droide C-3PO, embarcam na Millennium Falcon para salvar os seus velhos amigos. É desta forma tensa e agitada que Dark Empire começa, empolgando o leitor a encarar essa jornada…
A tentação do lado negro
Um dos grandes acertos de Dark Empire é a abordagem da tentação do lado negro. A questão dirige-se totalmente para Luke Skywalker, o qual segue o mesmo caminho de seu pai na HQ. Porém, diferente de Darth Vader, Luke decide se aventurar na face oposta da Força com o objetivo de impedir os planos maléficos do Imperador. Isso mesmo: do maléfico Darth Sidious.
Mais para frente na resenha contarei os detalhes sobre o retorno do personagem.
Ainda que determinado a derrotar o Imperador, obviamente Luke Skywalker acaba sendo seduzido pelo lado negro. Afinal, todos nós sabemos que Sidious é um mestre da manipulação e das artes Sith. Seria praticamente impossível Skywalker não ceder, embora tenha amadurecido bastante em comparação à trilogia clássica. O mais legal disso tudo é que Luke realmente possui momentos conscientes durante a trama, sobretudo na última edição de Dark Empire, em que auxilia Leia, Han Solo e cia. a escapar do mundo do Imperador com informações importantes do exército imperial.
Os Devastadores de Mundos
No começo do texto, apontei que Dark Empire é uma HQ peculiar não só pelos clones do Imperador, mas também por outros elementos novos. Os Devastadores de Mundos se encaixam perfeitamente nessa categoria. Para você que já achava incrível a Estrela da Morte, ou até mesmo a Starkiller (migrando para a linha do tempo oficial), com certeza os Planet Smashers irão lhe impressionar. Particularmente, estas superarmas são um dos principais atrativos da narrativa.
Já que citei a Estrela da Morte – a grande arma do império e também a mais conhecida – acho prudente compara-la com os Devastadores de Mundos. Dessa forma, deixarei claro os motivos de os City Eaters serem tão poderosos. A Estrela da Morte podia simplesmente destruir mundos, enquanto os Devastadores possuem a habilidade de usar os recursos de um planeta para o benefício da frota.
A tática principal de um devastador é pousar na superfície, roubar toda a matéria-prima disponível do local e recicla-la, aumentando a sua potência. Além disso, os recursos obtidos aplicam-se também na construção de droides, caças e outras naves. Portanto, ao mesmo tempo em que os Devastadores de Mundos atacam o inimigo, eles produzem armas adicionais de combate.
Dispondo dessa força imensurável, o primeiro e principal alvo dos Devastadores de Mundos na HQ foi o mundo oceânico dos Mon Calamari. Aliás, a batalha final na última edição também acontece no planeta do Almirante Ackbar. A escolha de Dac como alvo do Império é pertinente, tendo em vista que o local estava na lista de destruições da Estrela da Morte antes de seu primeiro uso em Alderaan.
Por fim, uma curiosidade para dar desfecho a esse tópico: os World Sweepers foram projetados antes da primeira Estrela da Morte. No entanto, o desenvolvimento dessas máquinas ocorreu em estaleiros secretos do Império, com um esboço vago da ideia discutida no Manual Imperial.
Conexões com o passado
Atualmente, a equipe da Lucasfilm tem feito um ótimo trabalho no universo expandido de Star Wars. As séries animadas, HQs, filmes e livros se complementam, sempre com novidades relevantes e conexões apropriadas entre as histórias. A quem diga que o antigo UE, o qual Dark Empire está inserido, era confuso e não apresentava tantas ligações entre períodos distintos na linha do tempo. Porém, isso não chega a ser uma verdade absoluta.
Nas edições de o Império do Mal, temos o retorno do personagem Vodo-Siosk Baas, velho Mestre Jedi de Exar Kun na época da Old Republic. Sua ilustre participação no enredo acontece por meio do Tedryn Holocron, o qual armazena diversos ensinamentos milenares sobre os Jedi. Esse Holocron não é somente fundamental na HQ Dark Empire, mas também nas sequências da série, Dark Empire II e Empire’s End. Só que isso é assunto para outra publicação…
Durante os acontecimentos de Dark Empire, Leia é capturada pelo clone do Imperador em seu mundo, Byss. O Mestre Sith mostra o holocron Tedryn para ela, tentando, sem sucesso, converte-la no lado negro. Leia conseguiria fugir mais tarde com o holocron. A bordo da Millennium Falcon, a irmã de Luke ouviu ensinamentos de Baas sobre a queda do antigo jedi Ulic Qel-Droma, tentando imaginar se o seu irmão teria salvação, afinal como mencionado, Luke entrou no lado negro visando destruir novamente o Imperador.
Depois da batalha de Mon Calamari contra os Devastadores de Mundos, Leia voltou à Base Pinnacle, onde ela novamente acessou o holocron. Ela perguntou a Baas sobre o futuro de seu irmão, mas o sábio Mestre jedi respondeu que não podia comentar a respeito do destino de Skywalker, porque o seu caminho estava obscurecido.
Aproximando-se do fim da história, Leia decide retornar as instalações do Imperador sozinha. Os ensinamentos do Tedryn Holocron tornaram mais fortes as suas convicções sobre o perigo que Luke corria. Por conta disso, a filha de Anakin Skywalker lutou bravamente contra o clone de Sidious, despertando em seu irmão o lado da luz mais uma vez.
Pode-se dizer que a presença de Vodo-Siosk Baas, além de ser fundamental para o desfecho da história, também é formidável aos fãs de outras aventuras do antigo universo expandido. Em especial, a Insurreição de Freedon Nadd (The Freedon Nadd Uprising) e Lordes Negros dos Sith (Dark Lords of the Sith).
O retorno de Darth Sidious
Anteriormente a Batalha de Endor, Palpatine encontrou um jeito de enganar a morte através da preservação de seu espírito. Esse método particular ficou conhecido como Spirit Transference. Contudo, Sidious também teve que arranjar uma série de clones com o objetivo de completar a transferência de seu espírito. O suprimento primário de clonagem ficou armazenado no planeta Byss, protegidos por guardas geneticamente modificados e alguns Dark Jedi.
Mesmo encontrando o caminho da ressurreição, a técnica de clonagem e possessão de seu espírito apresentou falhas. Cada corpo que ele tomava envelhecia e se deteriorava mais rapidamente do que o anterior. Por isso, Darth Sidious providenciou clones adicionais garantidos pelo Império, que por mais que estivesse enfraquecido, ainda causava problemas para a Nova República.
Já ressuscitado, Palpatine acelerou seu plano para substituir o Império Galáctico por um Império Negro (Dark Empire), governado apenas pelo lado negro da Força, sem a necessidade de governadores regionais. Como um de seus primeiros atos no comando, Sidious usou o poder do lado negro, Force Storm, atraindo Luke Skywalker para Byss. Diante de um inimigo imortal, Skywalker fez o impensável – a fim de derrotar o lado negro por dentro, ajoelhou-se diante do Imperador, e submeteu-se como o seu novo aprendiz Sith.
Imediatamente depois de ser nomeado Comandante Supremo, Skywalker acessou os códigos secretos que controlavam os Devastadores de Mundos e os entregou a sua irmã, Leia. Sem essa atitude, provavelmente o planeta Dac teria sido devastado pelas forças imperiais.
Aproximando-se do final da história, Skywalker começou a se afastar totalmente do lado da luz.
Em seu último ato de resistência, Luke Skywalker combateu Palpatine por meio de um espetacular duelo de lightsabers. Todavia, não teve forças para vencer. Depois de seu triunfo, Darth Sidious se inseriu na mente de Luke, fazendo com que o lado negro tomasse conta do espírito de Skywalker. Derradeiramente, apenas Leia conseguiu despertar novamente a luz em seu irmão, unindo-se a ele para derrotar o último clone do Imperador. Quer dizer, o último clone visto na HQ Dark Empire.
O lado negro sempre retorna
Embora o antigo universo expandido de Star Wars tenha uma infinidade de HQs, poucas se comparam a essa. Ainda que apresente algumas falhas, como a breve explicação do retorno de Palpatine e a própria ida de Luke ao lado sombrio, a história consegue evoluir em um bom ritmo e proporciona diversas curiosidades ao leitor.
A grande polêmica da saga de fato fica por conta dos clones de Sidious. É uma abordagem que até hoje divide muito os fãs. Particularmente, vejo isso com bons e maus olhos simultaneamente.
Considerando a época de publicação dos quadrinhos, lá no início da década de 90, reviver o Imperador foi interessante para dar uma nova perspectiva ao personagem Luke Skywalker. Ele embarcou no lado sombrio totalmente, e somente alguém como o Imperador podia possibilitar isso. Entretanto, passados 24 anos, é estranho e até mesmo um pouco bizarro ver Palpatine encarnar em diversos clones. Mas não chego ao ponto de dizer que a história envelheceu mal, porque como já mencionei, é uma HQ com inúmeros atrativos legais.
Bônus: Matt Busch e os 20 anos da saga Dark Empire
Na sexta edição da Star Wars Celebration em Orlando (2012), a Lucasfilm encomendou do famoso artista Matt Busch um pôster comemorativo da série Dark Empire (graphic novel da Dark Horse) para ser distribuído aos fãs no evento. Observe como Matt transmitiu de forma épica o clima da HQ em seu trabalho:
Dark Empire é minha história favorita na saga Star Wars. Amo a ideia de que Luke está atormentado com a necessidade de saber a razão pela qual seu pai virou-se para o lado negro. Essa série realmente me inspirou quando eu já estava na fase de jovem adulto, e me acordou para ir atrás dos meus sonhos. Então este cartaz é realmente um tributo, tanto como um fã quanto como um profissional. – disse Busch, ao ser entrevistado na Star Wars Celebration VI, Orlando.
Mais tarde, Matt Busch também comentou sobre a homenagem no especial The Art of Film – Volume 1: Star Wars, sendo questionado se tinha uma obra favorita entre as que ele fez em relação ao universo Star Wars:
Diria que é o pôster que eu desenhei para o 20º aniversário da minissérie em quadrinhos Império do Mal. Gostei muito daquela HQ como fã e foi ela que me colocou no mercado quando eu tentava despontar. Mas, além disso, tenho muito orgulho da composição e das cores. Acho que o pôster representa bem o tom da série. – (A Arte do Cinema – Star Wars, página 64, Editora Europa, 2015).
Dark Empire está disponível oficialmente no Brasil, através do Livro 1: Império Negro 1 da Planeta DeAgostini.
3 comentários
Excelente guia para quem não conhece bem o UE de Star Wars.;
Essa foi a primeira HQ quer comprei de Star Wars em meados de 1997 , quando a mesma foi publicada pela Editora Abril. Veio no embalo do relançamento de vinte anos da triloigia clássica, A Especial Edition. Foi bom relembrar aqui essa época . Meu primeiro contato trasmidia com a Saga.
Curto muito essa série, mas tem uma coisa que me incomoda: A arte: os desenhos e cores: Cam Kennedy não fez um bom trabalho. Parecem rascunhos, não desenhos acabados. Muitas vezes é dificil reconhecer quem é quem nos quadrinhos. Luke é um rosto genérico com topete. O imperador , um rosto genérico com gola de conde Drácula, e assim por diante