Seria chover no molhado dizer que Darth Vader é o maior vilão já criado – não somente de Star Wars, mas também da história do cinema. Design amedrontador, poder ilimitado e maldade imensurável são algumas das principais características do Lorde Sith que justificam tal fama. Contudo, essa respeitosa imagem ganha mais credibilidade por conta de histórias incríveis como Ghost Prison (2012), a qual abordaremos hoje.
O surgimento do Império
Os eventos de Darth Vader and the Ghost Prison ocorrem meses após o Episódio III: A Vingança dos Sith (19 BBY), localizando-se na era Rise of the Empire (1000 BBY – 0 BBY). Outros acontecimentos próximos a HQ são os vistos em Darth Vader and the Lost Command (19 BBY) e Darth Vader and the Ninth Assassin (18.5 BBY). Vale ressaltar que todos esses materiais estão inseridos no antigo universo expandido, carregando consequentemente o selo Legends.
Há muito tempo… numa Coruscant muito, muito distante…
O nascimento do Império foi sentido em toda a galáxia. Enquanto o novo Imperador consolidava seu poder, seu misterioso aprendiz, Darth Vader, foi enviado para por fim em uma disputa sindical, rastreando um Star Destroyer perdido e ameaças que sobreviveram ao recente fim das Guerras Clônicas.
Paralelamente, a máquina de relações públicas Imperial arranjou uma série de espetáculos públicos, incluindo a formatura da primeira classe de cadetes imperiais.
Coruscant se tornaria, assim, o destino de jovens das melhores academias militares da galáxia em tempos excitantes… de atmosfera festiva. A calma antes da tempestade!
Trachta: o Moff cibernético
Se Dark Empire atrai o leitor pelo enredo envolvente e misterioso a cerca do retorno de Darth Sidious, Ghost Prison chama a atenção no que tange a originalidade dos personagens. Não que a trama escrita por Haden Blackman seja completamente descartável, longe disso. Mas além de Vader, a HQ conta com uma série de ícones inerentes e que fazem jus ao rico universo de vilões em Star Wars. E posso assegurar que o Grand Moff Trachta se enquadra nesse quesito.
Personagem exclusivo dos quadrinhos, Trachta apareceu pela primeira vez na parte um de Empire: Betrayal (2002), retornando apenas nas sequências da série e em Darth Vader and the Ghost Prison.
Durante as Guerras Clônicas, o Agente Trachta atuou em inúmeras missões importantes no exército da República. Uma delas foi a operação para transferir o Pelotão Tark de Kamino para Golandras no sistema Marat de forma secreta. Mesmo aparentando ser uma tarefa simples, o esquadrão era na verdade uma equipe de clones dos Mundos Negros (Dark Worlds), pertencendo ao Império de Zeta Magnus. Projetados para se infiltrarem no Grande Exército da República, os clones foram eventualmente destruídos pelo Jedi Halagad Ventor durante a Batalha de Skye.
Mais tarde, servindo de ligação entre o Conselho Jedi e a força de Inteligência do Senado, o Chanceler Palpatine designou Trachta para investigar e capturar os Jedi que se juntaram com as forças separatistas de Conde Dookan. Nessa perigosa empreitada, o agente sofreu sérios ferimentos os quais culminaram na sua horripilante forma cibernética que vemos em Ghost Prison. Caso queira saber como Trachta virou metade homem, metade ciborgue, trate de ler a HQ logo após finalizar a resenha!
Laurita Tohm: o símbolo da fidelidade Imperial
Uma das características principais da organização imperial é a disputa pelo poder. Tanto no antigo universo expandido quanto no atual, nos deparamos com diversos oficiais que constantemente almejam subir de cargo e desbancar os seus concorrentes. Nesta história em quadrinhos esse cenário não sofre alteração, sobretudo por conta de Laurita Tohm, personagem originário de Darth Vader and the Ghost Prison.
Assim como Trachta, Tohm possui um passado dolorido e de péssimas recordações. Neste cenário, temos a explicação da origem do seu visual horripilante, lembrando até mesmo o Duas-Caras (vilão de Batman).
Na infância, Laurita viveu com sua família em uma zona de mineração destinada a explorar gás tibanna. Um dia, no período das Guerras Clônicas, representantes da Confederação de Sistemas Independentes chegaram à casa de Tohm e explodiram a instalação. Sua mãe lhe disse para correr, mas em choque, Tohm mal conseguiu se afastar quando os explosivos foram acionados.
Consequentemente, ele acabou perdendo um olho e um braço – ambos do lado esquerdo – sem contar as inúmeras cicatrizes adquiridas. Os seus pais, além de quatro irmãos, duas tias e três tios e nove primos também morreram no ataque, deixando Laurita Tohm órfão.
Largado no universo, Tohm decidiu se juntar à Academia Imperial de Raithal. Através de muito estudo, Laurita recebeu o título de valedictorian (aluno com maiores notas na turma), ganhando prestígio dos supervisores. Tamanha dedicação lhe conferiu um convite especial para se juntar a cerimônia no planeta de Coruscant dos primeiros oficiais imperiais graduados, sob a observação de Darth Vader e Darth Sidious.
Nessa mesma festividade, o General Gentis, herói da República na época das Guerras Clônicas e personagem central da trama, concedeu a Tohm o posto de tenente por sua excelência na Academia. A partir desse ponto vemos a evolução exponencial de Laurita na história, se envolvendo diretamente com Vader, obtendo mais notoriedade e avançando na hierarquia Imperial, além de mostrar a cada missão mais fidelidade para com o Império. Todo esse crescimento de Tohm aperfeiçoa o enredo da HQ, deixando o leitor curioso para saber o destino do personagem, sobretudo pela relação bastante próxima com Lorde Vader, a qual vai se tornando progressivamente perigosa.
Darth Vader: una-se a ele ou sofra as consequências
Até o momento, apresentei detalhadamente a origem de cada personagem na HQ. Tanto Laurita Tohm quanto Trachta tiveram suas personalidades e papéis desempenhados na história detalhados. Porém, acredito que seja desnecessário fazer uma introdução similar para Darth Vader. Afinal, quem não conhece o Lorde Sith mais temido da galáxia?
Nos eventos de Ghost Prison, Vader mostra por que tem tantos fãs espalhados ao redor do mundo. A cena final dele em Rogue One é assustadora, épica, fantástica. Aposto que todos concordam que é a melhor parte do longa metragem. Contudo, essa passagem no filme só recebe um reconhecimento tão grandioso pela imagem construída do Sith em HQs como a Prisão Fantasma. Quero deixar bem claro que admito a influência primária da trilogia clássica na popularização do personagem, mas isso não retira a enorme contribuição do universo expandido.
Inicialmente, logo na primeira edição da história, Vader demonstra todo o seu poder e habilidade ao conter um ataque contra o Imperador em Coruscant. E o vilão faz isso no melhor estilo possível, cortando cabeças, utilizando a Força e manuseando o lightsaber com maestria. Quem curte cenas de ação e combate, certamente, vibrará com o começo.
Ao finalizar a tropa contra Palpatine, Darth Vader embarca em uma viagem ao passado que agradará os fãs da trilogia prequel. Buscando informações ocultas no antigo templo Jedi, mais precisamente na sala do Conselho, o Lorde dos Sith assiste uma velha gravação sua com antigos companheiros da Ordem, a exemplo de seu mestre Obi-Wan e Yoda. A partir dessa descoberta, o leitor passará a compreender o motivo do título “Prisão Fantasma”.
Além de revisitar memórias distantes e derrotar inimigos, Darth Vader se destaca em Ghost Prison pelo medo que ele impõe tanto a seus inimigos como aos subordinados ao Império. No desenrolar da história, Trachta – e especialmente Tohm – lidam com o dilema de serem totalmente leais ao Sith e as suas respectivas ordens. É imensamente assustador ler as edições tendo a sensação de que a qualquer momento Vader pode decidir se livrar de soldados do próprio exército imperial.
Rebelião Imperial
Quando lemos a palavra rebelião, imediatamente pensamos na célula rebelde composta por Luke Skywalker, Leia Organa, Han Solo e tantos outros heróis. Entretanto, a rebelião vista em Ghost Prison é surpreendente e não possui vínculo algum com o que já foi visto nos episódios IV, V e VI.
Sob o comando do General Gentis, cadetes imperiais formaram uma revolução contra o reinado absoluto de Darth Sidious. A traição é justificada pelo descaso realizado pelo Império em desprezar os seus soldados, enviando-os para a morte certa nos diversos combates espalhados na galáxia. Obviamente, por trás dessa alegação, Gentis também cobiça assumir o desejado posto de Imperador, deixando o enredo ainda mais instigante.
O Prisma
O Prisma – formação tecnológica onde se passam os acontecimentos elementares da trama – funcionava como uma masmorra secreta, cuja existência só era conhecida pelo Conselho Jedi e tinha sido construído durante a Segunda Grande Dissidência.
A localidade foi usada para alojar criminosos incrivelmente perigosos durante as Guerras Clônicas e estava localizada na sombra da sexta lua de Diab, distante três dias de Coruscant. A penitenciária chegou a ser visitada pelo Mestre Obi-Wan Kenobi, e nos episódios da HQ por Darth Vader, Laurita Tohm e Trachta enquanto procuravam um lugar para reagrupar e tratar o Imperador Palpatine.
O aprendiz de Darth Sidious encontrou duzentos prisioneiros detidos, dos quais mais da metade tinham sido aprisionados por ele mesmo, quando ainda era o jedi Anakin Skywalker. De forma cruel, Vader decidiu colocá-los em um combate até a morte, e os que se mostrassem capazes de sobreviver, se juntariam a sua tropa. Gostaria de frisar que esse fato é um dos mais interessantes nas edições da revista. Dos mais de duzentos presidiários, somente trinta sobraram para contar história.
Todos têm fraquezas
Introduzindo personagens bem construídos como Laurita Tohm, e aproveitando-se de figuras já conhecidas como Darth Vader, Ghost Prison cumpre o seu papel, sendo uma leitura obrigatória para os fãs de Star Wars. Podemos perceber as fraquezas do Imperador, o conflito de seu aprendiz com o passado, descobrir velhos segredos da República, entre outros fatores significativos. Não é somente uma HQ notável de Vader, mas sim de todo o antigo universo expandido.