Lançada originalmente em 2001 nos Estados Unidos pela Dark Horse Comics, a série Jedi vs. Sith conta parte de uma excelente história do antigo universo expandido. Além de oferecer aos fãs a oportunidade de conhecer mais sobre a Regra de Dois, a HQ se aprofunda na Batalha de Ruusan vista no livro Darth Bane: Caminho de Destruição. Portanto, antes de conferir esta resenha ou até mesmo os quadrinhos, é extremamente aconselhável ler a primeira parte da trilogia de Bane, também já resenhada aqui no Jedicenter.
A Velha República
Os eventos de Jedi vs. Sith ocorrem simultaneamente ao enredo de Darth Bane: Caminho de Destruição (1000 BBY), localizando-se na era Old Republic (5000 BBY – 980 BBY). Acontecimentos posteriores a HQ são vistos em Darth Bane: Rule of Two (1000 BBY – 990 BBY) e na sua sequência, Darth Bane: Dynasty of Evil (990 BBY). Todos esses materiais estão inseridos no antigo universo expandido, carregando consequentemente o selo Legends.
Há muito tempo… numa Ruusan muito, muito distante…
Segundo a lenda, os Sith são sempre dois – Um mestre e um aprendiz. Contudo, exceções a esta regra marcaram o período da Velha República. Há mil anos, os Sith eram muitos e lutaram incessantemente contra o Exército da Luz. Lord Kaan governou a Irmandade da Escuridão e procurou a destruição de Lord Hoth e seus seguidores Jedi. Recrutados na guerra por um escoteiro, os jovens Tomcat, Rain e Bug se aventuram no campo de batalha e marcham para destinos muito maiores e diferentes do que qualquer um poderia ter imaginado.
Uma aventura através da guerra
Conforme visto na introdução do primeiro capítulo de Jedi vs. Sith logo acima, a HQ introduz três personagens centrais citados brevemente no epílogo de Darth Bane: Caminho de Destruição. Entre eles, cabe destacar a garota conhecida como Rain, que sem duvida alguma é uma das melhores figuras construídas na história e que marca presença em várias obras no Legends. Já os jovens Tomcat e Bug, mesmo aparecendo com mais frequência nas edições, acabam ficando em segundo plano devido o tamanho da importância de Rain. Todavia, ainda que exista uma disparidade de relevância, convém analisar cada um desses protagonistas, que aliás possuem origens idênticas.
Nascidos em Somov Rit, os primos Tomcat, Rain e especialmente Bug desejavam abandonar o planeta e desbravar a galáxia ao lado dos Jedi. No início da primeira edição, o Mestre Torr Snapit realiza essa vontade, porém de uma maneira bastante peculiar. O Jedi não recruta as crianças com a intenção de treiná-las, mas sim de levá-las rumo a guerra contra os Sith que estava acontecendo em Ruusan. Ou seja, o treinamento delas seria no meio do sangrento campo de batalha da New Sith Wars, a qual já perdurava por longos anos.
A situação do grupo ainda conseguiu piorar por conta de Rain. De forma oposta aos seus primos, a menina não demonstrava domínio sob a Força, obrigando que Tomcat enganasse Torr Snapit para convencê-lo da utilidade da garota. Entretanto, ao mesmo tempo que o truque garantia a saída de Rain do planeta Somov Rit, ele também confirmava a ida de uma criança totalmente incapacitada para a guerra mais cruel da galáxia.
É desse jeito ameaçador e surpreendente que Jedi vs. Sith apresenta ao leitor os personagens principais, bem como os desafios envolvendo as duas vertentes da Força os quais eles encontrarão em Ruusan.
Os covardes são aqueles que seguem o lado negro
Um dos pontos clássicos na maioria das histórias de Star Wars é a tentação e queda rumo ao lado sombrio. Essa temática já foi explorada na trilogia prequel, clássica e até mesmo inicialmente no Despertar da Força, sem contar enredos do atual e antigo universo expandido, como Dark Empire, A Insurreição de Freedon Nadd, Lordes Negros do Sith e tantos outros. E Jedi vs. Sith incrementa a lista com dois personagens, sobretudo Tomcat.
Mas antes de abordarmos o primo de Rain, gostaria de me aprofundar em Githany. A Lord Sith além de ter recebido bastante destaque no Caminho de Destruição, teve sua trajetória complementada na HQ. E essa é uma das temáticas mais chamativas de Jedi vs. Sith, afinal a leitura do livro acaba sendo melhorada e a personagem totalmente esmiuçada.
No decorrer da trama escrita por Drew Karpyshyn, percebemos que Githany configura-se como uma personalidade traiçoeira, a qual participou da Ordem Jedi e decidiu abandoná-la. A escolha tomada pela Sith foi impulsionada por conta de seu velho companheiro, Kiel Charny. Os dois durante certo tempo estreitaram as relações na Academia e se apaixonaram, despertando desejos intensos em Githany, vários destes excessivamente ligados ao lado sombrio. Kiel acabou permanecendo leal ao código Jedi, mas ela quis se aventurar com os Sith, pois entendia que junto deles poderia elevar suas habilidades e se libertar.
Outra vertente notável da personagem é sua interação com Bane. Em certos trechos e até mesmo nos momentos chave do primeiro livro da trilogia, Githany apresenta-se como provável aprendiz do vilão. A cada capítulo permanecia e aumentava a dúvida se a ex-Jedi acabaria sendo discípulo de Darth Bane no recomeço dos Sith, mas no final das contas isso não ocorre. Entretanto, por mais que Githany não tenha enxergado que Lorde Kaan estava destruindo a tradição Sith, ela conseguiu criar uma ligação bastante íntima com Bane.
Todo esse histórico mencionado da vilã exigiu que determinados detalhes dela fossem expostos na HQ, sobretudo os mistérios não resolvidos no livro. E de forma surpreendente isso veio à tona através da parceria com o Jedi Tomcat. De modo semelhante a Githany, Tomcat também sucumbiu ao lado negro, ainda que ele fosse o primo mais empolgado em se juntar aos Jedi na Batalha de Ruusan. O garoto decepcionou-se ao ver o Exército da Luz e o receio de alguns Cavaleiros em continuar no campo de guerra, e diante disso decidiu virar aprendiz de Githany.
O interessante dessa situação é que na história narrada no Caminho de Destruição, o leitor não têm conhecimento de Tomcat, e muito menos que o garoto torna-se aprendiz de Githany. Logo, em Jedi vs. Sith podemos ler um período do combate travado no planeta Ruusan paralelo aos acontecimentos principais do livro, e presenciar como Githany estabelece a conexão de mestre e discípulo. Consequentemente, tanto o espaço deixado pela obra de Drew é preenchido, quanto o desenvolvimento do primo de Rain transcorre sem problemas.
Rain e a Regra de Dois
Se Tomcat espanta o leitor por ir ao lado sombrio, Rain causa o dobro, ou até mesmo o triplo deste impacto. Aludida brevemente no epílogo do livro, a garota é figura indispensável no desenvolvimento da HQ, e ocupa uma lacuna significativa no universo Star Wars a partir do desfecho da história.
Inicialmente, conforme apontado inclusive na introdução da resenha, Rain era a prima menos habilidosa com a Força e candidata mais presumível de perecer em Ruusan. Contudo, esse cenário se inverte por completo no passar das seis edições dos quadrinhos. E a mudança de perspectiva desenrola-se justamente quando a menina chega no planeta dominado pela guerra dos Jedi e Sith. Ou melhor, na ocasião em que ela tentava aterrissar no mundo de Ruusan.
Naves do exército Sith derrubaram o transporte no qual Rain, Bug, Tomcat e o mestre Torr Snapit estavam rumo a base Jedi, o que resultou na separação imediata da garotinha dos demais. Porém, mesmo estando em uma situação adversa, Rain foi salva graças aos Bouncers. Criaturas parecidas com um globo, eles receberam esse nome por conta do seu método de locomoção: impulsionados pelo vento, os Bouncers conseguiam alcançar grandes alturas.
Os Bouncers tentaram aliviar o abalo da guerra em Ruusan, trazendo apoio e conforto aos mortos usando suas habilidades telepáticas. Quando o conflito terminou com Lord Kaan desencadeando a bomba mental, prendendo os espíritos de centenas de Jedi e Sith, as criaturas mantiveram uma profecia de que “um Cavaleiro viria, uma batalha seria travada e os prisioneiros se libertariam“. Curiosamente, os Bouncers ajudaram a cumprir a profecia quando guiaram Kyle Katarn ao Vale dos Jedi mais de mil anos depois.
Profecias a parte, os Bouncers tiveram uma influência direta na HQ e em futuros enredos do Legends de Star Wars, não relacionados com Kyle Katarn. E não foi só por terem salvado Rain de morrer, mas por outro motivo que pode ser melhor compreendido se voltarmos novamente ao livro Caminho de Destruição. Em certo ponto da história, Darth Bane convence a Irmandade de Kaan a realizarem um ritual para eliminar os Jedi. Entretanto, essa proposta foi anterior a execução da bomba mental, e deflagrou um incêndio terrível nas florestas de Ruusan. Por conseguinte, os Bouncers que habitavam a área começaram a enlouquecer, saindo de seu estado natural.
Apenas um Bouncer foi poupado da loucura: Laa. Ele cuidou de Rain durante todo o período que a garota permaneceu em Ruusan, e percebeu que ela era muito forte na Força. Até por conta disso, o Bouncer tentou ao máximo protegê-la da Irmandade da Escuridão. A decisão de Laa teve consequências significativas para o futuro dos Sith. Em inúmeros sonhos proféticos, Laa previu Rain tornando-se uma poderosa Dark Jedi. O Bouncer levou a prima de Bug e Tomcat nas costas por muitos dias até encontrarem as forças Jedi. Todavia, atente-se agora para os spoilers, vendo apenas Laa, um dos Cavaleiros que estavam no acampamento disparou e matou-la. Instintivamente, Rain respondeu, usando a Força para quebrar os pescoços dos Jedi. Ou seja, foi a morte de Laa que desencadeou a ida de Rain para o lado sombrio.
Porém, o efeito provocado também ajudou na ascensão da Regra de Dois. Coincidentemente, e mais uma vez algo não exibido no texto de Drew Karpyshyn, Darth Bane encontrou Rain após sua execução dos Jedi. A partir desse momento, Bane notou potencial na garota para ser sua aprendiz, de forma oposta a Githany. Com isso, o Sith inicia seus planos de implementar os conhecimentos aprendidos na Academia de Korriban e também no holocron deixado por Darth Revan.
Refletindo o Caminho de Destruição
A expansão do livro é o grande destaque de Jedi vs. Sith. Ainda sim, outro mérito presenciado na HQ é a reprodução de alguns fatos descritos originalmente em o Caminho de Destruição.
Sempre que o leitor se aventura no campo da literatura, ele recebe do escritor a missão de imaginar os cenários, ações e diálogos expostos ao longo dos capítulos. Dependendo da imaginação de quem lê e proporcionalmente de quem escreve, essa tarefa pode se tornar fácil ou complicada. Mas independente da clareza, sempre é preferível ver o universo conceituado pelo autor de reforma simbolizada. Neste caso, em imagens nos quadrinhos.
O trabalho feito pela Dark Horse Comics junto do escritor Darko Macan, e sobretudo dos desenhistas Ramón Bachs, Raul Fernandez, Chris Blythe e Andrew Robinson é extraordinário. As principais circunstâncias do Caminho de Destruição são refletidos na HQ de maneira elogiável, retratando com fidelidade o proposto por Drew em seu livro.
A oportunidade de poder visualizar Darth Bane chantageando o curandeiro para se livrar do veneno de Githany, ou até mesmo o Sith matando a sangue frio uma família com o intuito de se manter vivo, são apenas certos trechos do livro ilustrados em Jedi vs. Sith que renovam a visão do leitor sobre estes episódios. E não para por aí, a explosão da bomba mental feita por Lorde Kaan é igualmente mostrada na HQ, adicionando inclusive batalhas e eventos ocultos da primeira parte da trilogia Bane.
Una-se à batalha
Personagens novos, um olhar diferente e também complementar em relação ao Caminho de Destruição, inclusão de criaturas e lendas do antigo universo expandido, preparatório para o livro Darth Bane: Rule of Two… esses são poucos dos incentivos que Jedi vs. Sith oferece a você, logo não há o que questionar quanto a qualidade da HQ, e muitos menos se pode ser considerada uma leitura obrigatória. Trate de reservar um tempo e unir-se a última batalha da New Sith Wars!